A teoria, por vezes, é pura poesia:
A tematização do movimento desemboca no móbil idêntico e na relatividade do móbil, quer dizer, ela o destrói. Se queremos levar a sério o fenômeno do movimento, precisamos conceber um mundo que não seja apenas feito de coisas, mas de puras transições. O algo em trânsito que reconhecemos necessário à constituição de uma mudança só se define pela sua maneira particular de “passar”. O pássaro que atravessa meu jardim, por exemplo, no momento mesmo do movimento é apenas uma potência acinzentada de voar e, de uma maneira geral, veremos que as coisas se definem primeiramente por seu “comportamento” e não por “propriedades” estáticas. Não sou eu quem reconheço, em cada um dos pontos e instantes atravessados, o mesmo pássaro definido por caracteres explícitos, é o pássaro, voando, que faz a unidade de seu movimento, é ele que se desloca, é este tumulto plumoso ainda aqui e já está ali numa espécie de ubiqüidade, como o cometa com sua cauda. (pg. 370-371)
PONTY-MERLEAU, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (3ª Edição)
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