domingo, outubro 14, 2007

Bienal do Mercosul


Dario Robleto


Para começar a falar de Bienal do Mercosul, resolvi colar aqui um texto, cheio de links, que escrevi para o site da Fundação Iberê Camargo:

Mais para lá das margens
6ª Bienal do Mercosul traz um novo olhar sobre as grandes mostras de arte

Um convite para chegar mais perto e olhar com atenção é o que faz a 6ª Bienal do Mercosul a seus visitantes. Partindo da metáfora da Terceira Margem do Rio, retirada de um conto homônimo de Guimarães Rosa, a Bienal busca esse outro lugar a partir de conversas com seu público.

Entre Cais do Porto, Santander Cultural e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, estão distribuídas obras de 67 artistas de origens diversas, somando 23 países. Mas cada um ocupa o seu espaço e possibilita uma reflexão. O projeto museográfico desta edição prioriza um contato mais próximo com cada obra ou cada artista, criando uma sensação intimista com os trabalhos.

A curadoria geral da 6ª edição é de Gabriel Pérez-Barreiro, curador de arte latino-americana do Blanton Museum of Art, no Texas (Estados Unidos), e doutor em História e Teoria da Arte. Para construir o que se vê na mostra, Gabriel optou por um trabalho de curadoria horizontal, em que tanto curadores quanto artistas escolheram trabalhos. Na Mostra Conversas, por exemplo, que tem co-curadoria de Alejandro Cesarco, os curadores escolheram um artista, que indicaram mais dois trabalhos de outros dois artistas que dialogassem com sua obra e, por fim, os curadores escolheram uma quarta, formando salas que apresentam quatro trabalhos concomitantemente.

“Essa Bienal tentou pensar uma alternativa ao modelo de saturação das bienais, tanto no sentido da quantidade de mostras, quanto no sentido do que vem junto: número de obras, o cansaço que isso proporciona, a falta de preocupação com o público”, explica Gabriel. Nessa direção, além da redução do número de obras expostas e da criação de espaços de descanso pelas áreas expositivas, o artista e professor Luis Camnitzer foi convidado para fazer a curadoria do Projeto Pedagógico, que está integrado com o projeto curatorial desde o início dos trabalhos.

A exposição está dividida em três mostras coletivas – Conversas, Zona Franca, Três Fronteiras –, em cartaz no Cais do Porto, e três mostras monográficas – Jorge Macchi (Argentina), Francisco Matto (Uruguai) e Öyvind Fahlström (Brasil), apresentadas no Santander Cultural e no MARGS, respectivamente.


A mostra Zona Franca teve curadoria de Inés Katzenstein (Argentina), Luis Enrique Perez Oramas (Venezuela), Moacir dos Anjos (Brasil) e de Gabriel Pérez-Barreiro. Aos curadores foi proposto que escolhessem livremente entre obras de produção recente as que apresentassem maior relevância e qualidade. Entre os artistas presentes na mostra estão: Cildo Meireles, Dario Robleto, Francis Alÿs, M7Red, Rivane Neuenschwander, Steve McQueen e William Kentridge.

Já, Três Fronteiras foi um projeto de residência, que teve curadoria de Tício Escobar, e foi realizada na Zona da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Participaram do projeto Aníbal López, Daniel Bozhkov, Jaime Gili e Minerva Cuevas. No Cais do Porto, pode-se ver o resultado da experiência dos artistas. “A maior parte da Bienal está composta por trabalhos já existentes ou adaptações. Por isso, foi importante fazer um projeto com outro critério. Os trabalhos de Três Fronteiras estão falando sobre o lugar em que acontecem as coisas, como ultrapassar uma experiência para uma forma. Eu não queria fazer um projeto todo fechado. É necessário ter um barulho de fundo, uma confusão no final. Eu acho que ajuda a fazer um contraponto”, explica Gabriel.

Apesar da diversidade presente na exposição, o tom que percorre todos os espaços é uniforme, falando mais baixo muitas vezes. “É o tom que eu gosto de dar. Claro que é um trabalho em equipe e, claro, que eu escolhi pessoas que também de alguma maneira trabalham com isso. Acho que tem salas de Conversas, que são de voz muito baixa. A sala do Pablo Chiuminatto, por exemplo, precisa de tempo e de silêncio. Eu acho que é isso o que uma Bienal pode fazer pelas pessoas, ninguém agüenta mais espetáculos. A arte contemporânea tentar ocupar esse espaço, quase sempre fica uma coisa ridícula”, reflete Gabriel.

Até o dia 18 de novembro, todos os dias, das 9h às 21h, o público poderá visitar a 6ª Bienal do Mercosul e construir as suas próprias “margens”. Sobre a existência destes outros lugares, o curador é otimista: “Eles existem, mas são temporários, justamente pelo fato das margens estarem sempre mudando. E no momento que uma terceira se fixa, já vira uma segunda. É muito contraditório. Por isso, eu gosto muito da metáfora. É o processo de fugir das duas, que cria a terceira. É um fluxo constante. E eu acho que essa é a idéia que estamos querendo transmitir para as pessoas”.

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