sexta-feira, fevereiro 13, 2009
Dia:Beacon
Em novembro, quando eu fui para Nova York, um dos lugares que eu visitei e que mais me impressionou foi a Dia:Beacon, tanto em termos obras expostas, quanto de modelo de instituição e também de espaço e arquitetura. Escrevi esse texto para o site da Fundação Iberê Camargo sobre isso. Reproduzo-o aqui embaixo:
Dia:Beacon
Localizada às margens do rio Hudson, a 80 minutos de Nova York, a Dia:Foundation mostra seu acervo de obras de grande dimensão de artistas dos anos 1960 e 1970
A visita começa bem antes – ainda na Estação Central de Nova York, enquanto o visitante espera pelo trem. A beleza da estação encanta. O trem que vai para Beacon é pontual e desliza vagarosamente às margens do rio Hudson. Uma paisagem de encher os olhos e esvaziar a cabeça. Um momento de introspecção que prepara a visita. Uma hora e pouco depois se chega a Beacon. A Dia:Beacon, um braço da Dia:Foundation, talvez o maior deles, fica a cinco minutos de caminhada da estação.
O prédio, que reflete a típica arquitetura industrial do início do século passado, foi construído na década de 20 para abrigar uma fábrica da Nabisco. O dono mais recente da antiga fábrica foi a International Paper, que a doou para a Dia:Foundation. Às margens do Hudson, o enorme pavilhão se relaciona com o entorno através de grandes aberturas envidraçadas e de um jardim, projetado pelo artista Robert Irwin, que também desenhou todo o interior da Fundação. Graças a isso, muitas obras de alguma maneira também se relacionam com o exterior e a paisagem. Outro dado importante ligado à museografia é que a instalação das obras, sempre que possível, foi feita com a participação dos artistas.
Mas, talvez o que mais impressione ao entrar, seja a abundância de espaço e o conforto de estar nele, proporcionado pelo silêncio e por sofás confortáveis, que permitem o deixar-se estar em frente a uma obra por horas. Essa quebra, em relação aos museus concorridos e lotados de Nova York, ajuda a melhorar a experiência da visita e facilita o contato com as obras.
A Dia:Beacon foi aberta em 2003 com o objetivo de trazer para o público obras de grande porte da Dia:Foudation, que não podem ser mostradas em museus tradicionais pelas suas dimensões. A coleção tem um foco em artistas dos anos 60 e 70 e grande parte foi comprada ou mesmo financiada entre 1974 e 1983. No início dos anos 2000, outras obras foram incorporadas à coleção, mas sempre de artistas da mesma geração e com afinidade com os artistas já participantes da coleção. “Um diferencial da Dia é que ela financia e acompanha artistas individualmente”, esclarece Lynne Cooke, curadora da Fundação.
Um dos pontos altos da Dia é a coleção de minimalismo, que está em cartaz em Beacon. Artistas como Donald Judd, Dan Flavin, Michael Heizer e Fred Sandback podem ser vivenciados em amplas salas, que dão conta de mostrar um conjunto de obras significativas de suas produções. “Esses artistas acreditavam que para melhor entender os seus trabalhos o contexto em que eles estavam expostos seria fundamental. Não são trabalhos de arte conceitual, eles precisam ser experimentados fisicamente no tempo e no espaço ”, afirma Cooke.
Outro ponto imperdível da visita são as obras de Richard Serra: além de pequenas salas de trabalhos únicos, há um espaço dedicado a três esculturas monumentais do artista. Nessas esculturas é importante a experiência individual e solitária do visitante. Elas são grandes elipses irregulares, em que é possível entrar e vivenciar diferentes sensações, que vão da curiosidade ao medo.
A Dia:Beacon expõe ainda diversos trabalhos de um time de primeira linha, que inclui: Bernd and Hilla Becher , Joseph Beuys , Louise Bourgeois, John Chamberlain, Hanne Darboven, Walter De Maria, On Kawara, Imi Knoebel, Sol LeWitt, Agnes Martin, Bruce Nauman, Max Neuhaus, Blinky Palermo, Gerhard Richter, Robert Ryman, Robert Smithson, Andy Warhol e Lawrence Weiner.
A cada cinco anos as obras expostas são alteradas, mas os trabalhos mais significativos não são tirados de exibição. Algumas exposições temporárias de longa duração também são realizadas. Até setembro desse ano, por exemplo, pode ser vista a mostra Sol LeWitt, Drawing Series..., e, em maio, inaugura a exposição Antoni Tàpies – Works from 1960s and 1950s.
No site da Dia:Foundation é possível conhecer mais sobre a Fundação e suas outras sedes, espalhadas em Nova York e em outros lugares dos Estados Unidos. Entrando no link específico da Dia:Beacon pode-se ver algumas imagens dos trabalhos de cada artista e ler textos, em inglês, sobre suas trajetórias.
Um dia inteiro em Beacon deixa com vontade de voltar. A Dia:Beacon fecha às quatro da tarde. Hora de sair rumo à estação de trem. A viagem de volta é rápida. Mal dá tempo de assimilar tudo o que foi visto. Por outro lado, pode-se dizer que a viagem não tem fim, que ela vai criando conexões ao longo do caminho, em todos os outros museus e galerias que se visita ou num livro que se abre. Quando for a Nova York, não esqueça de incluir em sua agenda uma viagem a Beacon. Ou, planeje uma especialmente para isso. O conjunto de obras que está ali não pode ser visto em nenhum outro lugar.
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